Descansando o coração

Quem nunca? Há sempre uma pontinha de desassossego no coração da gente. Por motivos diversos chega aquele momento em que se quer escafeder-se dali. Fugir do dia a dia. Da rotina e da hipocrisia. Das mentiras. Ou das dúvidas. Das dívidas também, claro. Sair fora do noticiário tóxico, ultimamente, nos acomete , sobretudo Eu sempre quando penso em fugir, sonho com o Uruguai. Tenho por aquele país enorme sentimento patriótico. Se fosse mais jovem e não tivesse tanta limitação de locomoção, e tamanha dependência de companhia, sequer pestanejava. Corria para aquela província cisplatina repleta de histórias e enredos socialistas que orgulham a América Latina. Mas é só um sonho. Fugir é próprio das migrações humanas. Muitas vezes a gente foge sem sair do lugar. O pensamento voa. Alcançamos mundos incríveis. Com o Amor e a esperança. Há em mim um clamor de exílio voluntário. Vamos fugir? Cida Torneros

Na data de hoje em 1954 o Rio de Janeiro que era a capital do país acordou em choque. O presidente Getúlio Vargas suicidou-se na madrugada com um tiro no peito deixando uma carta para o povo brasileiro. Foi no Palácio do Catete que hoje abriga o Museu da República. No final do texto, ele escreveu: saio da vida para entrar na história. O Brasil parou. No Rio a multidão foi se despedir e acompanhar seu corpo até o aeroporto para o voo que o levou à sua terra, São Borja, no Rio Grande do Sul. Era o desfecho trágico para uma crise política que se arrastou pressionando o ex ditador ao gesto extremo. Não vi nenhuma reportagem ou registro sobre a data de hoje. Imagino que as novas gerações conheçam algo sobre esse episódio mas foi uma época em que a informação não dispunha nem de televisão e não existiam ainda as redes ou mídias digitais. Getúlio se tornou um personagem estudado porque tanto foi odiado nos tempos de ditador como passou a ser querido na fase de presidenterepubli

Aquele vozeirão do grande intérprete que foi Nelson Gonçalves adentrava meus ouvidos infantis enquanto eu tentava compreender que tipo de boneca ele entoava. Custei a entender a temática de tão profunda canção. Uma verdadeira análise do que se convencionou explicar sobre a liberdade feminina de ser e o amor machista que infelizmente ainda demandam uma triste estatística de feminicidios. Na melodia ele sinaliza a figura da prostituta mas há o triunfo do sentimento amoroso sobre o ódio que enseja a visão distorcida de posse masculina sobre o corpo feminino. Palmas para Adelino Moreira compositor fiel a uma Época de ouro que enfatizou a nobreza e o sofrimento inerentes às grandes paixões humanas. O cantor imprimiu calor humano e despertou minha curiosidade ainda infantil. Muitos anos depois compreendi a candura da letra. Considero hoje que boneca de trapo é uma homenagem a um número imenso de mulheres que buscaram sobreviver e ainda buscam apesar de enfrentarem valores conserv

No baile da vida os pares volteiam em torno de movimentos que articulam ora poder, ora afeto, ora ódio, e muitas vezes um infeliz descompasso. Nestes tempos atuais parece que perdemos o ritmo totalmente no que tange ao bom humor e ao bom viver. Paira no ar um excesso de mentiras e um outro tanto de hipocrisia. Que clube de bairro é este em que os dançarinos trocam de parceiros de acordo com seus interesses demasiadamente excusos? Vale rodopiar sobre seu próprio ego. Aliás é o que eles e elas mais fazem. Verdadeiros pavões engalanados se mostram para o delírio de plateias ávidas de ascensão social ou sobrevivência de espécie. Uma promessa de última dança tende a encerrar um ciclo de anos supostamente dourados. Em resumo, entramos na rota do fogo amigo. Se você guardar para mim a última dança numa noite dessas, creia que esperei por isso uma vida inteira. Desculpe minha falta de jeito. Perdi o dom de crer em canções fantasiosas. Prefiro aguardar as votações de eleições

Quase não dormi. Era muita coisa pra digerir. Jô me deixou alegria. Um mundo de talentos múltiplos. Criatura ímpar. Não consigo chorar. Sorrio e agradeço. Privilégio ter sido contemporânea dele. Uma figura extraordinária. Tô chovendo no molhado. Já disseram tudo. Falta nada? Talvez um novo bordão. Dormi com ele muitos anos. Esperava suas piadas e seu beijo. Foi nosso Chaplin. Um gênio com certeza. Em Itaipava num restaurante ouvi seu filho tocar piano numa noite repentinamente. Penso que foi seu maior amor. Chegava de repente. tocava naravilhosante. Não falava nada. Vivia seu mundo autista e artistico particular. Jô foi único. Estou feliz. Seu humor me deu combustível suficiente para seguir e sorrir. Hoje acordei para sobreviver a viuvez de um gordo que ainda me faz muito senhora do meu sorriso. Jô está comigo. Com certeza. Com todos nós que o amamos.Meio tonta curto essa ressaca pela partida dele. Cida Torneros

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Talvez seja a hora fatal dos poemas da Lya Luft ao chorar a viuvez do Hélio Pelegrino. Melhor dizendo, o lado fatal de corações formatados no século XX e das mentes programadas para possíveis guerras nucleares. Quando se chega ou se passa dos 70 um furor extra uterino dá a luz a fantasmas por mares nunca dantes navegados' . Isso quer dizer que as linguagens mudam a todo instante e já não importam muito se dizem verdades ou mentiras. Vencem os que colecionam mais seguidores nas midias eletrônicas sociais ou as religiões /seitas de caráter político experts em lavagens cerebrais. Depois dos 70 deixa-se para trás sonhos dantescos. Cultiva-se cada pequena conquista em saúde física ou mental. Aplaude-se discretamente uma Nanci rebelde Pelosi que visita Tay Uan e Provoca a grande China. É hora de reler clássicos. Estudar mais filosofia e história. Momento definitivo para defender o futuro livre das novas gerações e seu direito de sobreviver num planeta sustentável. Depo