Crônica. Lenda galega do dia das Bruxas

Cida Torneros: Uma lenda da Galícia para o Dia das Bruxas ========================================================== CRÔNICA/DO DIA Pero que las hay, hay Aparecida Torneros Uma lenda da Galícia, terra minha avó Carmen e da minha bisavó Manuela, conta que as Meigas (como são chamadas as bruxas por ali), não possuem pelos pubianos, são mestras em aparecer e desaparecer, capazes de ajudar os aflitos, protegem mulheres perdidas e acendem luzes nos caminhos dos peregrinos andarilhos, para que alcancem o fim das suas trilhas, com sucesso. Mas, é voz corrente que elas são atentas além de boas cobradoras, se andam soltas nos solstícios ou equinócios, em festas que seitas e tradições lhes oferecem, não se descuidam de afazeres cotidianos. Atendem pedidos, esforçam-se para superar as marcas da terrível inquisição, continuam a produzir poções e unguentos, curam feridas físicas e morais, providenciam pares para soldões aparentemente irreversíveis, viajam de avião, modernamente, travestem-se de jovens bem vestidas, algumas vezes estão nos escritórios em pele de executivas ou comandantes de governos, são mulheres modernas, seguem reencarnando em corpos suficientemente capazes de suportar seus dons que continuam surpreendendo os desavisados ou descrentes. Bruxas, Meigas, Fadas, Feiticeiras, Médius, Sensitivas, quaisquer nomes que assumam, em verdade cumprem missão nos seus povos, através dos tempos, surgem em comunidades ciganas, em aglomerados de periferias, em clubes de bairro, em escolas de governos, em competições olímpicas, em pleitos eleitorais, em salas de aula, em salões de danças, em sets de filmagem, elas se multiplicam, assustadoramente, em olhares hipnotizadores, em perfumes extasiantes, são adeptas do no sense, ou do inebriante instante de prazer , dominam ambientes, param o tempo, proporcionam mudanças de dimensões, passam enganos, deixam que muitos imaginem que estão sonhando, os tiram da realidade, propositadamente. Hoje, no tal “dia das bruxas”, a la americana, são mostradas como figuras menores, aliadas a abóboras iluminadas, em rituais infantilizados, o que não as incomoda, de modo algum. De tão sábias, em milhões de anos à frente da humanidade aprendiz, elas aproveitam a data e se soltam por aí, nas entrelinhas do tempo, penetram pensamentos cuja guarda se abre, e plantam fé. Misteriosas, as Meigas influenciam meditações dos que precisam respostas e ainda, de quebra, salpicam dúvidas nos que julgavam detentores de verdades absolutas. Só brincalhonas, divertidas, mas sabem ser responsáveis nos instantes de dores e dramas, se necessário, fazem dormir e esquecer, acalmam corações aflitos, oferecem chance de aconchego e paz aos que se acham decepcionados ou desesperançados. Mas, é preciso sintonizá-las, nas noites de lua cheia, por volta da meia-noite, seu zumbido perpassa ouvidos sensíveis, seu perfume inunda narinas delicadas, sua luz ofusca quartos escuros, sua aura desencanta os medos e acende o céu dos insensatos medos, clareando espaços dignos de fantasias impossíveis. Duma coisa estamos certos, elas estão soltas e devem continuar assim, não as tentem prender, são seres esvoaçantes por natureza, entram e saem das nossas vidas, com o desvelo da liberdade absoluta, não há nada a questionar e nem cadeados a trancar. Deixem-nas assim, livres como os pássaros, porque Bruxas são criaturas além da nossa compreensão e habitam entre nós em forma de mulheres que todos conhecemos, que identificamos e nos põe interrogações cujas respostas não encontraremos nunca! Se, no meio da madrugada, lhes ouvirmos a gargalhada sonora, ecoando pelo infinito, melhor guardar sua voz como o símbolo do grito do tempo. Cabe-nos respeitar o delírio do seu riso solto, penetrante, reverberante, aquele riso forte, restaurador e assustador, inquietante e mesmo assim, apaziguador de nossas almas que buscam o elo perdido entre os místicos poderes que sua energia é mestra em administrar. A elas, nosso silêncio e nosso olhar atento, além, claro , de ouvido ansioso por algum cântico que nos revele o paraíso além do universo ! (Aparecida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro,)

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